O que dizer sobre a Família 35?
Cinco razões para rejeitar a teoria da Família 35 como texto original
“Caso alguém queira alegar que f35 é uma recensão, eu requeiro (e insisto) que ele identifique quem a fez, quando e onde, e provenha a evidência que apoia a alegação. Sem evidência, qualquer alegação nessa direção é frívola e irresponsável.”1
A Família 35 é um grupo de manuscritos bizantinos que é defendida por alguns como contendo o texto original do Novo Testamento. Esse grupo de manuscritos foi “identificado”2 e “colacionado”3 por Wilbur Pickering que afirma que ele preserva a redação exata do texto apostólico. Nas palavras do próprio Pickering: “Eu afirmo que Deus usou a Família 35 para preservar a exata redação original do Texto do Novo Testamento; está reproduzido em minha edição do Texto grego.”4
Para defender essa perspectiva, Pickering desenvolveu uma teoria que, para ele, explica como isso teria acontecido na história. O nome dessa teoria é Teoria do Texto Original (TTO).5 De acordo com ela, a Família 35 seria um grupo de manuscritos que teria sido usado por Deus para preservar o texto apostólico, desde os dias dos apóstolos até hoje.
Apesar de encontrar simpatizantes em certos círculos da internet, a teoria de Pickering nunca foi aceita no contexto acadêmico. Nenhum seminário a adotou, nenhum professor de grego ou crítica textual escreveu uma defesa sobre o texto. Isso não se deve à suposição de que a academia seja espiritualmente indisposta à verdade,6 nem que ela tenha a intenção de atacar a credibilidade do Novo Testamento,7 nem que seja dominada por Satanás,8 muito menos porque esteja trabalhando para ele.9 A teoria é amplamente rejeitada por ser realmente ruim. Essa rejeição generalizada é feita por acadêmicos de todas as perspectivas, incluindo os teólogos conservadores que também defendem a preservação do texto sagrado.10
Um dos motivos pelos quais a teoria de Pickering ganha algum espaço apenas entre leigos é sua aparente simplicidade: ela descarta a necessidade de análises textuais detalhadas ou do estudo da tradição manuscrita. Defendida com base em silogismos e retórica, a teoria pode parecer convincente para aqueles que não possuem familiaridade com história da igreja e do texto grego do NT.11 Por outro lado, a retórica dos defensores é tão vazia de substância que qualquer estudante das Escrituras que tenha um conhecimento elementar da história da igreja sabe que a teoria de Pickering é insustentável.12
De modo geral, a teoria do texto original defendida por Pickering é uma mistura de teoria da conspiração,13 motivada por uma péssima teologia da batalha espiritual,14 associada uma perspectiva fundamentalista do texto da Escritura,15 a uma criativa releitura da história16 e uma análise seletiva da evidência disponível.17 Não é à toa que a teologia que fundamenta essa teoria tenha sido tão veementemente criticada por teólogos conservadores.18 Considerando especificamente a teoria de Pickering e todas as críticas que ela merece, creio que vale a pena relembrar as palavras de Gordon Fee:
“Deve-se notar desde o início que o livro sofre, página após página, de deturpações da pesquisa acadêmica, uso da retórica no lugar do argumento e uma aparente falta de conhecimento de primeira mão com muitos dos dados primários.”19
Dado o vasto corpo de evidências teológicas e históricas que refutam a teoria de Pickering, além das inúmeras críticas já publicadas, este post se concentrará em apenas cinco razões principais para rejeitar a ideia de que a Família 35 contém as exatas palavras do texto original do Novo Testamento. Essas razões evidenciam que o texto grego da Família 35 é, na verdade, uma recensão textual produzida no final do período bizantino. Como há pouca informação disponível sobre esse assunto na internet, pretendo aqui compilar uma antologia de referências que sustentem essa conclusão.
AS CINCO RAZÕES
A releitura histórica é criativa, mas demonstra que a defesa da f35 como texto original é uma obra de ficção;
A teologia por traz do método e da releitura histórica representa um erro teológico grave e demonstra que o fundamento da teoria não é a análise objetiva das evidências;
A evidência manuscrita demonstra com clareza que a f35 é uma recensão;
O consenso acadêmico é conclusivo na defesa de que a f35 é uma recensão;
A evidência paleográfica é irrefutável em provar que a f35 é uma recensão;