Eu sinto uma certa dor no coração quando ouço sobre pessoas que professam a fé em Cristo Jesus como Salvador, que entendem as Escrituras como revelação divina e fundamento da fé e prática, que desejam viver para a glória de Deus, mas que, ao mesmo tempo, rejeitam a igreja local. Essa dor é ainda mais profunda porque conheço várias dessas pessoas e compreendo um pouco do que sentem. Para elas, a religião institucionalizada é má, corrompida, abusa dos seus fiéis e acaba por perverter o verdadeiro evangelho de Jesus. Acreditam sinceramente que a vivência comunitária da fé deve ocorrer fora das instituições humanas, de maneira natural e orgânica.
Para ser honesto, essa visão da igreja que eles defendem está diretamente ligada às experiências que tiveram com a igreja institucionalizada. São pessoas que sentiram na pele os abusos de líderes religiosos autoritários, que viveram com a constante hipocrisia de cristãos maledicentes e que testemunharam os interesses financeiros do pastor corromper a exposição das Escrituras. Viram a organização da instituição sufocar o organismo da igreja de Cristo em prol das preferências institucionais dos seus líderes. Meu coração se compadece dessas pessoas porque, via de regra, elas sofreram nas mãos de maus pastores e péssimas congregações. E, devido a essa terrível experiência, concluíram que todo tipo de organização humana é igualmente má, corrupta e desnecessária.
Sentimento Partilhado
Na verdade, entendo esse sentimento porque o conheci de perto. Embora tenha sido criado em um lar cristão, a experiência da minha família com a igreja local nem sempre foi positiva. Anos antes de eu nascer, meus pais frequentavam uma igreja de liderança forte e centralizadora. Foi lá que aprenderam o evangelho, se apaixonaram pelas Escrituras e as estudavam com afinco. Cresceram na fé, desenvolveram seus dons e viveram o que acreditavam ser a verdadeira experiência da igreja local. Entretanto, diferenças de opinião entre membros da liderança acabaram gerando uma facção na comunidade. Meus pais saíram dessa igreja, seguindo aquele que consideravam ser o verdadeiro líder espiritual deles. Infelizmente, estavam enganados. Pouco tempo depois, esse “pastor” abandonou a fé, a família e a comunidade para viver no mundo como alguém do mundo. E, assim, aquela comunidade, cheia de ovelhas que realmente queriam viver para o Senhor, ficou sem liderança, sem comunidade e sem condições de continuar. Não muito tempo depois, o grupo tornou-se um aglomerado de desigrejados, onde cada um tentava viver a vida cristã a seu modo.
Eu nasci nesse período. Meus pais seguiam sozinhos, sem conseguir voltar à igreja de onde haviam saído, sem se unir a outra comunidade. Eles buscavam viver o evangelho, buscavam verdadeiramente o Senhor e estavam prontos para servi-Lo, mas, por causa das dores da experiência e dos medos em relação à igreja institucional, continuavam procurando orientação de Deus sem qualquer vínculo com uma igreja local. Pela graça de Deus, porém, meus pais resolveram ingressar no Seminário Bíblico Palavra da Vida, onde tiveram sua fé reafirmada no evangelho e na igreja local. Puderam voltar e pedir perdão à comunidade de onde haviam saído e, finalmente, entenderam que, apesar de todos os problemas, a igreja local era fundamentalmente importante para o desenvolvimento, promoção e comunhão da fé. Desde então, têm se dedicado ao plantio, fortalecimento e crescimento de igrejas locais em diferentes localidades no Brasil.
Infelizmente, a maioria das pessoas que experimentaram as decepções da igreja institucional juntamente com meus pais não passou pelo mesmo processo e continuou a viver a experiência solitária do evangelho como desigrejados. Lembro-me de visitar essas pessoas com meus pais e de encontrar gente com genuíno interesse por Cristo e pelo ensino de Cristo, mas que sentiam certo desprezo pela igreja local. Eram pessoas que queriam criar seus filhos no temor do Senhor, mas que eram incapazes de se juntar a uma igreja e viver o aspecto comunitário da fé em uma igreja local. Para elas, a igreja local havia sido corrompida por lideranças autoritárias; as denominações eram vistas como instituições humanas que dividiam a igreja invisível de Cristo e, em última análise, a igreja se tornara institucional, má, corrompida e, finalmente, desnecessária.
Eu testemunhei o amor que essas pessoas tinham por Cristo, apesar das dores que carregavam contra a igreja local. Mas isso não foi tudo o que testemunhei. Infelizmente, também presenciei muitos fracassarem na fé, vacilarem numa vida de pecado sem qualquer prestação de contas ou orientação de outros. Ouvi relatos de alguns que perderam seus casamentos, de outros que viram seus filhos abandonarem a fé e se voltarem contra o Senhor. Conheço histórias de pessoas que, por terem desprezado a igreja local, acabaram ensinando seus filhos a desprezarem a igreja, os cristãos e o próprio Senhor. Embora conheça algumas poucas histórias de pessoas que mantiveram sua caminhada com Cristo à parte da igreja, a grande maioria delas acabou por afastar seus filhos da comunidade da fé. Na infeliz tentativa de salvar seus filhos da igreja local, muitos acabaram permitindo que seus filhos sequer conhecessem o evangelho, o Senhor e a salvação.
É por isso que meu coração se entristece quando ouço falar de um desigrejado. Por um lado, entendo suas dores, seus medos e sua relutância em estar numa igreja local. Por outro, temo pelo que pode acontecer com aqueles que abandonam a igreja local, especialmente com o que pode vir a acontecer com seus filhos.
Por isso, hoje escrevo o que escrevo com amor, na tentativa de, quem sabe, ajudar aqueles que lutam para viver a fé à parte da igreja local. Se eu pudesse ajudar um desigrejado a entender o valor da expressão local da comunidade da fé, tentaria demonstrar, com amor, que nas Escrituras a igreja de Cristo é (1) uma comunidade de expressão local, (2) composta por pecadores redimidos, (3) chamados para estar juntos, (4) para adorar a Deus, (5) servir uns aos outros, (6) sob a supervisão de líderes de caráter cristão, e (7) para alcançar o mundo. A igreja local, apesar de todos os seus problemas, é parte integral do plano de Deus para Seus filhos.
Igreja é uma Comunidade Local
Se eu pudesse ajudar um desigrejado, tentaria mostrar que nas Escrituras a igreja de Cristo é normalmente apresentada como uma comunidade local. Em Atos, por exemplo, a igreja é frequentemente descrita como uma congregação local, seja em Jerusalém (5:11; 8:1, 3; 11:22; 12:1, 5; 14:27; 15:4, 22; 18:22), Antioquia (11:26; 13:1; 15:3, 41) ou em locais onde Paulo realiza suas viagens missionárias, como Derbe e Listra (16:5) ou Éfeso (20:17). É também comum em Atos o termo ekklesia descrever a assembleia cristã, com ênfase no ajuntamento de pessoas em um determinado local (5:11; 14:27; 15:3, 4, 22, 23).
Eventualmente, Lucas usa o mesmo termo para descrever aspectos organizacionais da assembleia cristã (14:23; cf. 1 Tm 3:1-8), sua dimensão universal (9:31) ou para descrever teologicamente sua natureza (20:28). Ou seja, da perspectiva da igreja primitiva, o cristianismo sempre foi vivido em comunidades locais. É verdade que as Escrituras falam de uma igreja universal, invisível (1 Co 1:2), mas, a bem da verdade, a grande maioria das cartas do Novo Testamento foi escrita para comunidades particulares em lugares específicos.
O próprio ato de congregar, que o autor de Hebreus exorta os cristãos a praticar com frequência (Hb 10:24-25), é direcionado a uma congregação local. Nas Escrituras, não existe expressão individual de fé à parte da igreja local. A fé verdadeiramente cristã é sempre manifesta e experimentada em comunidade. Ovelhas solitárias são presas fáceis para os lobos da perversão da fé.
Comunidade de Pecadores Redimidos
Eu também tentaria demonstrar que, na história da igreja primitiva, a igreja local é sempre composta por pecadores redimidos. Por mais bonita que seja a história da igreja primitiva, a verdade é que ela era muito parecida com as nossas comunidades: era um aglomerado de igrejas locais compostas por pecadores redimidos por Cristo. O evangelho pregado pelos apóstolos era recebido por pecadores como eu e você.
Quando Pedro prega pela primeira vez o evangelho no livro de Atos, ele defende que o Jesus histórico, que viveu e se manifestou abertamente diante dos israelitas (2:22), que foi morto por eles, executado pelos romanos (2:23), Deus o havia ressuscitado (2:24), cumprindo o que havia prometido nas Escrituras (2:25-28; 29-31; cf. Sl 16:8-11). Esse Jesus, que Pedro entende ser um homem aprovado por Deus diante dos homens, foi feito Senhor e Cristo (2:36). Ele era o Messias prometido, e aquele que invocasse o nome do Senhor seria salvo (2:21), tal como aconteceu com essas 3 mil pessoas em Jerusalém (2:41). Invocar o nome do Senhor Jesus (Jl 2:32 + At 2:21; cf. Rm 10:10-13) é explicado por Pedro como um ato de arrependimento (At 2:38a; cf. 3:19; 17:30; 26:20), seguido pelo batismo em nome de Jesus para o perdão dos pecados (v.38b; cf. 8:12-13; 8:36, 38; 9:18; 10:47-48; et al) e pelo recebimento do Espírito Santo (v.38c; cf. 10:44-48; 11:15-18; et al).
Como fica claro, o evangelho era o centro da pregação apostólica e a conversão de pecadores, a missão da igreja (At 1:8; cf. 9:35; 11:21; 26:18; 26:20). Ou seja, a igreja primitiva era formada por pecadores que ouviram a mensagem apostólica (2:22-36), se arrependeram dos seus pecados (2:38), receberam o evangelho (2:41a) e foram batizados (2:41b), tal como acontece nas nossas igrejas até hoje. A igreja primitiva era formada por pecadores redimidos!
É por isso que, na igreja primitiva, existiam mentira (At 5:1-10), divisão (At 6:1), descaso (At 8:2), preconceito (10:28), diferenças de opinião (7:2-53; cf. At 2:46; 3:1; 5:12), falsos mestres tentando entrar (8:13-21), pessoas precisando ser disciplinadas (5:3-10), corrigidas (18:25-26) e tantos outros problemas que vemos nas epístolas do Novo Testamento. Ou seja, a igreja primitiva também era cheia de gente problemática, tal como acontece nas nossas igrejas hoje. Eram pecadores redimidos chamados para viver juntos!
Aliás, é exatamente isso que lemos no livro de Atos: “Todos os que criam estavam juntos” (At 2:44). Dois conceitos são interessantes nesse versículo. Primeiro, observe que os cristãos são descritos como aqueles que creem. Essa é a primeira vez que Lucas usa esse verbo para descrever os membros da igreja, e com raras exceções (cf. 8:12, 13; 9:26), todas as outras vezes que o faz, descreve os cristãos (cf. 4:4, 32; 5:14; 9:42; 10:43; 11:17; 15:5; 19:18; 21:20, 25; 22:19). Em segundo lugar, é interessante notar que esses que creram passaram a viver juntos. Apesar de a expressão da fé ser individual, os cristãos passam a pertencer à comunidade da fé. No Novo Testamento, a individualidade da fé é necessariamente seguida pela integração na comunidade dos salvos.
Em outras palavras, de acordo com o testemunho da igreja primitiva, o salvo não é uma ilha de santidade e solidão em um mundo de trevas, mas um membro da comunidade local no mundo. Pecadores redimidos são chamados para estar juntos e viver juntos a fé cristã.
Chamados Para Estar Juntos
Além disso, eu diria que a expressão da fé cristã é necessariamente comunitária. Afinal, o termo mais comum no Novo Testamento para se referir à igreja é o termo grego ekklesia. Diferente do que se pensa, ekklesia não descreve aqueles que foram “chamados para fora” (do grego "ek" [para fora] + "kaleo" [chamar]), mas sim um ajuntamento de pessoas.
No Antigo Testamento Grego, a Septuaginta (LXX), esse termo é usado em tradução do termo qahal, que normalmente descreve a assembleia de Deus, a comunidade de Israel (Dt 31:30, Js 8:35, Jz 20:2, 1 Re 8:22, 1 Cr 13:2; cf. Dt 18:16; 1 Sm 17:47). Embora o termo hebraico qahal também tenha sido usado para descrever uma assembleia judicial (Dt 9:10; 23:3-8; Jz 21:5; Mq 2:5), ou um ajuntamento político (Ed 10:8, 12; Ne 8:2, 17), ele era frequentemente utilizado para descrever uma reunião de fiéis com objetivos de adoração (2 Cr 6:3; 30:2, 4, 13, 17; Sl 22:22; Jl 2:16).
No Novo Testamento, o termo ekklesia é usado de modo semelhante, e por isso, diversas vezes no NT, encontramos a expressão comunidade (assembleia, igreja) de Deus (1 Co 1:2; 10:32; 11:22; 15:9; 2 Co 1:1; Gl 1:13; pl. 1 Co 11:16, 22; 1 Ts 2:14; 2 Ts 1:4). Nesse sentido, seria mais apropriado entender o termo ekklesia como aqueles que foram chamados para estar juntos.
Em outras palavras, aqueles que foram redimidos por Cristo foram salvos da condenação do pecado para viverem a graça de Deus de maneira comunitária. É por isso que vemos em Atos Deus adicionando pessoas à comunidade local da fé em diferentes lugares do mundo antigo (At 2:47; 5:14; 11:24). Quando Deus salva um pecador, Ele o adiciona à igreja local, para que, em comunidade, esse cristão possa viver o evangelho junto com seus irmãos de fé.
Para Prestar Culto Juntos
Esse ajuntamento de pessoas, que foram chamadas para estar juntas, também é convidado por Cristo para viver em adoração a Deus de maneira comunitária. Por isso, dizemos que a igreja é uma comunidade doxológica, ou seja, orientada primeiramente para a glória e adoração a Deus. Assim como tudo o que foi criado, seja no céu (Sl 108:5; 72:19) ou na terra (Sl 19:1), existe para glorificar a Deus, a igreja existe para glorificar a Deus (Ef 3:21). Metaforicamente, a igreja é descrita como o santo templo (Ef 2:21), o santuário de Deus (1 Co 3:16; 2 Co 6:16), o lugar de habitação de Deus (Ef 2:22) onde Sua presença gloriosa é verdadeiramente manifesta (1 Co 14:25).
Em outras palavras, a comunidade cristã, como templo de Deus, experimenta a manifestação da presença de Deus quando a comunidade se reúne em nome de Cristo, e, baseados no perdão obtido por Seu sacrifício, se juntam para glorificar a Deus prestando-Lhe um culto comunitário. A adoração comunitária é a expressão presente que melhor representa a expectativa da eternidade, onde pessoas de todos os povos, línguas, raças e nações se juntarão para adorar o Cordeiro (Ap 4:11; 5:9-12; 7:9). É no culto público da comunidade da fé que essa adoração acontece!
Para Servir Uns aos Outros
Se pudesse ajudar um desigrejado a considerar o valor da igreja local, eu diria que o mais recorrente elemento da igreja apresentada nas Escrituras é o conceito de mutualidade, conhecido na recorrente expressão uns aos outros. O encorajamento e edificação mútua dos cristãos era uma prática constante na igreja primitiva (At 4:36; 11:22-23; 13:43; 14:21-22) e fazia parte do ministério de Paulo e Barnabé (At 15:32; 16:40; 18:27-28; 20:1-2). Era recorrente nas cartas de Paulo (Rm 1:11-12; 2 Co 7:4, 13; Ef 6:21-22; Fp 1:14; Cl 4:8; 1 Ts 2:11-12; 3:2, 7; Fm 7; Tt 2:15) e em outros escritos apostólicos (Hb 3:13; 13:19-22; 1 Pe 2:11; 5:12; Jd 3). Fortalecer a fé uns dos outros era uma prática da igreja primitiva e marcava um dos importantes elementos da experiência comunitária da fé. Aliás, a igreja primitiva era exortada a se encorajar mutuamente! (Hb 10:25; 1 Ts 5:11).
Além disso, os cristãos eram também exortados a viver o amor mútuo: assim como Deus nos amou (Jo 3:16; 1 Co 8:11-13; 1 Jo 3:16; 4:11), devemos amar uns aos outros (Gl 5:14; Mt 22:39; Jo 15:12; Rm 13:10; 1 Ts 4:9; Hb 13:1; Tg 2:8; 1 Pe 1:22. 2:17; 1 Jo 3:23; 4:21; 2 Jo 5). O amor fraterno é uma das marcas da igreja primitiva, que era convidada a cuidar dos doentes (Mt 25:36; Gl 4:14), auxiliar com necessidades financeiras (Mt 25:35; 1 Jo 3:17), servir uns aos outros (1 Ts 2:8; Gl 5:13; Fp 2:30; 4:10; 1 Ts 1:3) e manter a unidade e comunhão da comunidade por meio da prática do amor mútuo (1 Pe 4:8; Ef 4:2). Na igreja primitiva, o amor mútuo era expresso nas comunidades locais como uma demonstração da manutenção do ensino de Cristo (Jo 14:32; 1 Ts 4:9).
Vale mencionar que a igreja primitiva era exortada a orar uns pelos outros: assim como Cristo (Rm 8:34; Hb 7:25; 1 Jo 2:1) e o Espírito Santo (Rm 8:26-27) intercedem por nós, os salvos devem orar uns pelos outros (Ef 6:18; 1 Ts 5:25; Fm 22; Hb 13:18-29; Tg 5:14; 1 Jo 5:16). A igreja primitiva era também exortada a servir uns aos outros em amor (Gl 5:13), honrar uns aos outros (Rm 12:10c), aceitar uns aos outros (Rm 15:7), admoestar uns aos outros (Rm 15:14), carregar as cargas uns dos outros (Gl 6:2), suportar uns aos outros (Ef 4:2), submeter-se uns aos outros (Ef 5:21) e dedicar-se uns aos outros (Rm 12:10a).
Isso tudo era possível porque os cristãos são membros uns dos outros (Rm 12:5; 12:4; 1 Co 10:17; 12:12-14, 20, 27, 28; Ef 1:23; 4:25; 5:23, 30; Cl 1:24; 2:19). A mutualidade do cristianismo é experimentada verdadeiramente na expressão local da comunidade da fé. Afinal, a mutualidade esperada da comunidade cristã pressupõe uma comunidade em comunhão. Não existe mutualidade na solidão do cristianismo desassociado da expressão local da comunidade da fé.
Sob Liderança
Um detalhe que os desigrejados normalmente se esquecem é que, desde sua origem, a igreja é dirigida por líderes que precisam ser obedecidos e respeitados (Hb 13:17). Para alguns desigrejados, o único pastor da igreja é Cristo (1 Pe 5:4), e, baseados nisso, se consideram livres de todo e qualquer líder comunitário, pois respondem apenas a Jesus Cristo. Infelizmente, essa leitura que fazem da igreja está equivocada.
Em primeiro lugar, eles se esquecem que foi Cristo quem estabeleceu o princípio da liderança na comunidade da fé ao nomear os apóstolos como líderes da igreja primitiva (Mc 3:13-19; Mt 10:1-4; Lc 6:12-16; Jo 6:70; Mt 19:28; Mc 11:11; Lc 8:1; At 6:2; 1 Co 15:5; Ap 21:14).
Em segundo lugar, esquecem que os apóstolos seguiram o padrão estabelecido por Cristo ao constituir líderes (At 6:1-7) nas igrejas que plantavam (At 14:23; Tt 1:5).
Em terceiro lugar, esquecem que os apóstolos deixaram orientações sobre o trabalho e a função desses líderes comunitários. Eles devem ter caráter irrepreensível (1 Tm 3:1-13; Tt 1:6-9) para funcionarem como líderes (1 Tm 5:17), mestres (1 Tm 5:17) e protetores da comunidade contra os ataques de falsos mestres (At 20:28-31; Tt 1:9); para exercerem sua liderança em amor (1 Pe 5:1-3) e serem modelos para suas comunidades (1 Tm 4:12).
Por fim, esquecem que líderes comunitários marcados por essas qualidades devem ser respeitados e obedecidos (Hb 13:7, 17; 1 Ts 5:12).
É verdade que o Supremo Pastor da Igreja é Jesus Cristo (1 Pe 5:4), e que todos um dia prestaremos contas a Ele, mas, na experiência da vida cristã neste mundo, seremos liderados por homens separados por Deus, conforme os apóstolos nos instruíram.
Para Alcançar o Mundo
Por fim, eu diria a um desigrejado que, se ele realmente acredita nas Escrituras, se entende como um seguidor de Cristo que quer fazer a vontade de Deus nesta vida, então foi chamado para fazer discípulos de todas as nações (Mt 28:19-20). E aqui encontramos o problema mais significativo dos desigrejados: eles ignoram a missionalidade da fé cristã.
Vivendo isolados da comunidade local, eles não fazem discípulos como o Senhor nos ensina. Para eles, a fé cristã é reduzida a uma coleção de ensinamentos apostólicos ou afirmações teológicas que devem ser saboreadas à distância da igreja local. São membros que não querem pertencer ao corpo, seguidores que não querem fazer discípulos, ouvintes, mas não praticantes do evangelho. Não à toa, vivem uma fé estéril e sem frutos, que acaba por afastar seus filhos de Cristo Jesus.
Por isso, eu ajudaria um desigrejado a lembrar que os verdadeiros seguidores de Cristo foram comissionados por Ele (Jo 15:16; Mt 9:37-38; Lc 10:1-3; Jo 4:36), com autoridade dada por Ele (Lc 9:1; Mt 10:1; 28:18; Mc 6:7; 16:17-18; Lc 10:17-19), para dar continuidade à Sua missão (Jo 20:21; 17:18), por meio da capacitação do Espírito Santo (At 1:8; Lc 24:49; Jo 20:22; Hb 2:4) para fazer discípulos (Mt 28:19-20; At 2:47; 14:15; 16:14-15; 18:8; Rm 10:14-14), proclamar o evangelho (At 20:24; 8:40; Rm 1:9; 15:20; 2 Tm 1:11), testemunhar de Jesus Cristo (5:30-32; Lc 24:48; Jo 15:16-27; At 4:20), defender a fé (Fp 1:27), honrar a Deus (Ef 3:10-11; Jo 15:8; 1 Pe 2:12) e alcançar o mundo (Lc 24:47; Mt 24:14; Mc 13:10; Mt 28:19-20).
Aos Desigrejados
Eu sei que muitos desigrejados vivem fora de igrejas locais especialmente porque nelas já sofreram o suficiente. Sei que muitos carregam feridas profundas causadas por maus pastores e péssimas congregações. Mas, se eu pudesse deixar uma última sugestão a um desigrejado, eu diria: Não desista da igreja local porque a igreja local que você conheceu era terrível. Não desista da igreja local porque você sofreu nas mãos de um mau pastor e de uma péssima comunidade.
Procure uma comunidade local que viva a simplicidade do evangelho, cuja liderança seja marcada pelos valores bíblicos. Eu sei que não é fácil encontrar pastores e comunidades assim, mas acredite, eles existem. Deus não abandonou Sua igreja! Existem pastores que se importam com você, que estão prontos a demonstrar amor verdadeiramente cristão e a caminhar com você lado a lado. Não desista da igreja local, pois é nela que a verdadeira vivacidade da fé acontece.
Soli Deo Gloria
Artigo atualizado de uma versão originalmente publicada no site Coalizão Pelo Evangelho.