Todo ano, especialmente na época do Natal, ouvimos muitas críticas à narrativa dos Evangelhos sobre o nascimento do nosso Senhor. Comediantes, influenciadores, jornalistas, ateus e desocupados se juntam para questionar a plausibilidade desse relato. Em um mundo que rejeita a existência de Deus e a possibilidade de milagres, o relato do nascimento de Cristo é tratado como parte da mitologia cristã, pois, afinal, em termos puramente naturais, não existe concepção sem sexo.
Contudo, Para nós, cristãos, essa doutrina é de extrema importância. Ela demonstra de forma clara que Deus atua na história de maneira sobrenatural, realizando suas obras de maneira milagrosa. Neste post, busco reafirmar a relevância teológica e histórica dessa doutrina e também abordar uma crítica comum que é frequentemente levantada contra ela: a alegada existência de relatos divergentes sobre o nascimento virginal de Cristo, usados como argumento para questionar sua veracidade. Meu objetivo é afirmar que a doutrina do nascimento virginal de Cristo é teologicamente essencial, historicamente recebida pela igreja e textualmente genuína.
I. Importância Teológica
O nascimento virginal refere-se à crença cristã, fundamentada nos relatos dos Evangelhos de Mateus (1:18-25) e Lucas (1:26-38), de que Jesus Cristo foi concebido no ventre de Maria por obra do Espírito Santo, sem intervenção de um pai biológico humano, preservando, assim, a virgindade de Maria. Esse evento singular é interpretado como o cumprimento da profecia de Isaías 7:14: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel”. Essa concepção milagrosa é considerada um sinal da natureza divina de Jesus, que é, ao mesmo tempo, plenamente humano e plenamente divino. O nascimento virginal é central à teologia cristã porque sustenta tanto a pureza moral de Jesus quanto sua identidade como Filho de Deus encarnado.
a. Autoridade e Veracidade das Escrituras
O nascimento virginal não é apenas uma crença teológica, mas também um evento que confirma a confiabilidade da Bíblia como Palavra de Deus. Negar essa doutrina seria questionar a veracidade de textos bíblicos cruciais, como Isaías 7:14 e Mateus 1:18-25, comprometendo a integridade da Bíblia como um todo. Essa doutrina, portanto, reforça a convicção de que a Bíblia não é apenas um livro de ensinamentos morais, mas um livro de relatos divinamente inspirados de eventos sobrenaturais. Sem a aceitação do nascimento virginal, tanto a autoridade das Escrituras quanto a própria fé cristã seriam fragilizadas.
b. União Hipostática
A concepção virginal também desempenha um papel crucial na definição da natureza de Cristo como plenamente Deus e plenamente homem. Geerhardus Vos enfatiza que o nascimento foi humano, mas o sujeito que nasceu é divino. Isso significa que, embora Jesus tenha experimentado o nascimento como qualquer ser humano, sua origem foi única: Ele nasceu por meio de uma mulher, mas sem a participação de um pai humano, destacando sua divindade. Essa doutrina sublinha a união hipostática – a coexistência perfeita das naturezas divina e humana em Cristo. Sem o nascimento virginal, seria impossível sustentar que Jesus é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o que é um fundamento essencial da doutrina cristológica.
c. Impecabilidade de Cristo
Outro aspecto teológico significativo é a impecabilidade de Cristo. Por meio da concepção pelo Espírito Santo, Jesus foi preservado do pecado original que afeta toda a humanidade. James Orr, em sua obra The Virgin Birth of Christ, argumenta que a intervenção divina na concepção garantiu que Jesus fosse, desde o início, “sem mancha ou mácula de pecado”. Assim, o nascimento virginal assegura que Cristo é o Salvador perfeito, apto a oferecer um sacrifício redentor em favor da humanidade.
d. Teste da Ortodoxia
Historicamente, a doutrina do nascimento virginal tem servido como um marco distintivo da fé cristã ortodoxa. Millard Erickson, em sua obra Christian Theology, observa que essa crença se tornou um “teste” para determinar a visão de uma pessoa sobre os milagres e, por extensão, sobre a autoridade divina de Jesus. Aceitar o nascimento virginal é aceitar que Deus intervém de maneira sobrenatural na história. Por outro lado, rejeitá-lo implica uma visão mais cética e naturalista que contradiz o cerne do cristianismo.
N.T. Wright destaca que a doutrina do nascimento virginal está intrinsecamente ligada à crença nos milagres de Deus. Ele escreve: “Se você acredita em milagres, então acredita no nascimento milagroso de Jesus; se não, não”. Essa visão ressalta que a aceitação do nascimento virginal é, em última análise, um reflexo da fé na soberania de Deus sobre as leis naturais. A negação do nascimento virginal frequentemente está associada à rejeição de outras verdades sobrenaturais da fé cristã, como a ressurreição de Cristo. Por isso, essa doutrina não é apenas um detalhe teológico, mas um alicerce para a verdadeira doutrina cristã.
II. Importância Histórica
A doutrina do nascimento virginal tem sua origem nos relatos apostólicos de Mateus (1:18-25) e Lucas (1:26-38), escritos no século I. Esses evangelistas apresentaram Jesus como concebido pelo Espírito Santo, sem intervenção de um pai biológico humano, cumprindo a profecia de Isaías 7:14: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.”
Nos séculos seguintes, os Pais Apostólicos defenderam essa doutrina com vigor. Inácio de Antioquia (107 d.C.) escreveu: “Estou plenamente convencido sobre nosso Senhor, que Ele é verdadeiramente da família de Davi segundo a carne, o Filho de Deus segundo a vontade e poder de Deus, tendo nascido verdadeiramente de uma virgem” (Carta aos Esmirnenses, 1.1).
Essa doutrina foi incluída no Credo Apostólico e reafirmada nos credos Niceno (325) e Niceno-Constantinopolitano (381), que declaram: “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus, foi encarnado pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e se fez homem.” Ela também foi defendida por diversos Pais da Igreja, como Atanásio, Gregório Nazienzus, Gregório de Nissa, Agostinho, Jerônimo, João Crisóstomo e tantos outros.
Mesmo com os questionamentos vindos do criticismo histórico e da teologia liberal nos séculos XIX e XX, a doutrina permaneceu central nos círculos conservadores. William Shedd destacou: “Um exame dos credos da igreja antiga convencerá qualquer mente imparcial de que a doutrina do nascimento virginal de Cristo tem um apoio eclesiástico tão forte quanto qualquer uma das doutrinas da fé cristã” (Dogmatic Theology, 1894).
A doutrina do nascimento virginal é, portanto, um fundamento essencial da fé cristã. Ela sustenta a autoridade das Escrituras, garante a plena divindade e humanidade de Cristo, assegura sua impecabilidade e serve como um marcador de ortodoxia teológica.
III. Diferenças nas Narrativas
Apesar de ser uma doutrina fundamental para fé cristã, e de ser históricamente defendida como um dos principais artigos da nossa fé, isso não garante que inexistência de dificuldades relacionadas à essa doutrina. Ao analisar os relatos do nascimento de Jesus nos Evangelhos de Mateus e Lucas, percebemos algumas diferenças significativas em seus detalhes e estrutura.
Esses contrastes, frequentemente apontados pelos críticos como evidência de que o nascimento de Jesus não tenha sido virginal, incluem variações em genealogias, eventos específicos e deslocamentos geográficos. No entanto, é importante notar que essas diferenças refletem os propósitos teológicos e narrativos distintos de cada evangelista, ao invés de qualquer contradição fundamental.
a. Genealogias
As genealogias de Jesus apresentadas em Mateus e Lucas diferem consideravelmente em forma e propósito. Mateus (1:1-17) foca na linhagem real de Jesus, conectando-o diretamente a Abraão e Davi, com o objetivo de apresentar Jesus como o Messias prometido, o legítimo herdeiro do trono de Davi e o cumprimento das promessas feitas a Israel. Lucas (3:23-38), por outro lado, remonta a genealogia de Jesus até Adão, destacando sua humanidade universal e sua conexão com toda a raça humana.
b. Eventos Exclusivos de Mateus
A narrativa de Mateus apresenta alguns eventos únicos que não aparecem em Lucas. Por exemplo:
A visita dos magos (2:1-12), guiados pela estrela que os levou a Belém.
A reação de Herodes ao nascimento de Jesus, que resultou no massacre das crianças em Belém (2:16).
A fuga da família de Jesus para o Egito (2:13-15) e o retorno após a morte de Herodes, culminando na mudança da família para a Galileia, na cidade de Nazaré (2:19-23).
Esses eventos destacam o cumprimento das profecias messiânicas e o perigo enfrentado pelo menino Jesus desde o início de sua vida.
c. Eventos Exclusivos de Lucas
Lucas inclui detalhes que não são encontrados em Mateus, como:
A história de Isabel e Zacarias (1:5-25) e o nascimento de João Batista, que prepara o caminho para o Messias (1:57-66).
O anúncio do nascimento de Jesus a Maria pelo anjo Gabriel (1:26-38), que é descrito em maior detalhe do que o relato em Mateus.
O censo de César Augusto, que levou José e Maria a Belém (2:1-5).
O nascimento de Jesus em um estábulo (2:6-7) e a visita dos pastores ao local após o anúncio dos anjos (2:8-20).
A apresentação de Jesus no templo, onde Simeão e Ana reconhecem o menino como o Salvador prometido (2:22-39).
Lucas tem um estilo narrativo mais detalhado e cronológico, refletindo seu propósito de oferecer um relato ordenado e confiável, conforme declarado no prólogo de seu Evangelho (Lc 1:1-4).
d. Deslocamento Geográfico e Cronologia
Os dois evangelhos também diferem na maneira como descrevem os movimentos de José e Maria antes e depois do nascimento de Jesus:
Em Lucas, Maria e José vivem em Nazaré antes do nascimento e viajam para Belém devido ao censo (Lc 2:4-5). Após o nascimento de Jesus, eles retornam diretamente para Nazaré (Lc 2:39).
Em Mateus, os pais de Jesus parecem já estar em Belém no momento do nascimento. Após a visita dos magos e a fuga para o Egito, eles finalmente se estabelecem em Nazaré (Mt 2:11-23).
Essas diferenças geográficas e cronológicas refletem os diferentes focos narrativos dos evangelistas. Enquanto Lucas organiza os eventos com base em uma ordem cronológica mais rígida, Mateus destaca o cumprimento de profecias, como a saída do Egito (Mt 2:15) e o estabelecimento em Nazaré (Mt 2:23).
IV. Similaridades nas Narrativas
Embora os relatos dos Evangelhos de Mateus e Lucas sobre o nascimento de Jesus apresentem diferenças significativas em detalhes e estrutura, eles também compartilham várias semelhanças importantes. Essas similaridades não apenas destacam os pontos essenciais da narrativa, mas também reforçam a unidade da mensagem cristã e a historicidade do nascimento virginal de Cristo.
a. Os Pais de Jesus
Ambos os evangelhos identificam os pais de Jesus como Maria e José, um casal que estava legalmente noivo ou casado, mas que ainda não havia consumado a união. Essa informação é crucial para estabelecer que o nascimento foi virginal. Mateus afirma que “antes de coabitarem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1:18), enquanto Lucas confirma que Maria era virgem e enfatiza suas palavras ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem?” (Lc 1:34).
b. José é Descendente de Davi
Os dois relatos destacam que José era da linhagem de Davi, conectando Jesus às promessas messiânicas do Antigo Testamento. Mateus declara que José era “filho de Jacó” e descendente direto de Davi (Mt 1:16, 20), enquanto Lucas ressalta que ele era “da casa e linhagem de Davi” (Lc 1:27; 2:4). Essa conexão é fundamental para identificar Jesus como o Messias prometido, que viria da linhagem de Davi.
c. Concepção pelo Espírito Santo
Ambos os evangelistas concordam que a concepção de Jesus foi um milagre, realizado pelo Espírito Santo, sem intervenção humana. Mateus escreve que Maria foi encontrada grávida “pelo Espírito Santo” (Mt 1:18, 20), enquanto Lucas registra as palavras do anjo Gabriel a Maria: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra” (Lc 1:35).
d. O Nome Jesus
Nos dois relatos, o nome da criança, Jesus, foi dado por instrução divina e possui um significado teológico profundo: “O Senhor salva”. Mateus registra o anjo dizendo: “Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1:21). Lucas repete a instrução: “Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus” (Lc 1:31).
e. Jesus como o Salvador Prometido
Ambos os evangelhos apresentam Jesus como o Salvador que veio para redimir o povo de Deus. Mateus enfatiza o aspecto redentor ao dizer que Jesus “salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1:21). Lucas declara que Jesus é “o Salvador, que é Cristo, o Senhor”, anunciado aos pastores pelos anjos (Lc 2:11).
f. O Nascimento Após a União de Maria e José
Tanto Mateus quanto Lucas situam o nascimento de Jesus no contexto da união legal entre Maria e José, mas enfatizam que o casamento não foi consumado antes do nascimento. Mateus relata que José tomou Maria como esposa, mas “não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt 1:24-25). Lucas também sugere que José e Maria estavam unidos quando viajaram a Belém (Lc 2:5-6).
g. Local e Contexto do Nascimento
Ambos os relatos concordam que Jesus nasceu em Belém. Mateus menciona que Jesus nasceu “em Belém da Judeia”(Mt 2:1), enquanto Lucas detalha que Maria e José viajaram de Nazaré para Belém devido ao censo, e lá Jesus nasceu (Lc 2:4-6). Após os eventos em Belém, ambos os evangelistas concordam que a família de Jesus acabou se estabelecendo em Nazaré. Mateus afirma que José e Maria foram morar em Nazaré para cumprir as profecias (Mt 2:23), e Lucas relata que, após a apresentação de Jesus no templo, eles retornaram para Nazaré (Lc 2:39).
h. Anúncio por Meio de um Anjo
Nos dois relatos, o nascimento de Jesus é anunciado por um anjo. Mateus narra que o anjo apareceu a José em sonhos para explicar que a concepção de Maria era obra do Espírito Santo (Mt 1:20-23). Lucas, por sua vez, descreve a visita do anjo Gabriel a Maria, que anunciou que ela daria à luz o Filho de Deus (Lc 1:30-35).
i. A Virgindade de Maria
Ambos os evangelistas reafirmam que a concepção de Jesus ocorreu sem que Maria tivesse relações sexuais com José ou qualquer outro homem. Mateus sublinha isso ao dizer que “tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: ‘A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel’” (Mt 1:22-23). Lucas reforça a virgindade de Maria quando ela pergunta ao anjo: “Como acontecerá isso, se sou virgem?” (Lc 1:34).
j. Contexto Histórico: O Reino de Herodes
Ambos os evangelistas situam os eventos do nascimento de Jesus no contexto histórico do reinado de Herodes, o Grande. Mateus menciona explicitamente que Jesus nasceu “nos dias do rei Herodes” (Mt 2:1), enquanto Lucas inclui referências ao contexto político e religioso da época, mencionando também Herodes no início de sua narrativa (Lc 1:5).
k. Crescimento em Nazaré
Ambos os evangelhos concordam que, após os eventos em Belém, Jesus foi criado em Nazaré, na Galileia. Mateus conclui sua narrativa dizendo que José, ao retornar do Egito, foi morar em Nazaré para cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno” (Mt 2:23). Lucas também menciona que, após a apresentação de Jesus no templo, a família voltou para Nazaré, onde o menino cresceu e foi fortalecido (Lc 2:39-40).
V. Considerações sobre as Dissimilaridade e Similaridades
O que podemos aprender a respeito da análise das narrativas da natividade? Antes de mais nada, devemos reconhecer a existência das dissimilaridade e as complexidades que agregam ao nosso entendimento dos eventos narrados. Por outro lado, quando listamos as similaridades apresentadas pelos evangelistas, percebemos que elas não são similaridades em pontos periféricos, mas concordam em pontos fundamentais da fé cristã. Considere algumas conclusões possíveis dessa análise comparativa.
a. Uso de Fontes
É amplamente aceito que os evangelistas utilizaram fontes diferentes para compor suas narrativas. Mateus provavelmente baseou-se em informações vindas de José ou de alguém próximo a ele, enquanto Lucas usou Maria ou alguém ligado à sua perspectiva como principal fonte. Isso explica as diferenças no conteúdo e na ênfase de cada relato.
b. Proposta Narrativa
Além disso, Mateus parece estruturar sua narrativa com paralelos à história de Israel. Ele apresenta Jesus como o novo Moisés, ressaltando temas como: Uma criança esperada (1:18ss) ; salva do extermínio de Herodes (3:13ss); saindo do Egito (2:15ss); passando pelas águas (3:13ss); entrando no deserto (4:18ss); chamando 12 discípulos (4:18ss); dando a lei no monte (5-7); realizando milagres (8-9); enviando 12 para “conquistar” a terra (10:1ss); alimentando a multidão com “maná" do céu (14:15ss; 15:32ss) e sendo transfigurado para seus discípulos (17:1).
Lucas, por outro lado, adota uma abordagem mais cronológica e detalhada, como ele próprio afirma no prólogo de seu Evangelho (Lc 1:1-4). Sua narrativa enfatiza o cumprimento das promessas divinas e a inclusão dos marginalizados, como os pastores que recebem o anúncio do nascimento de Jesus.
c. Dissimilaridade não Implica em Ignorância
Devemos ressaltar que dissimilaridade não significa desinformação, nem contradição. O principal problema encontras na oposição ao nascimento virginal de Cristo é que os críticos presumem dissimilaridades implica em contradição. Por outro lado, quando os relatos são muito aprecisos, eles acusam de conspiração. Em outras palavras, eles usam dissimilaridade e similaridade de acordo com suas próprias preferências. Quando os relatos são dissimilares, eles são contraditório; quando são similareis, são conspiratórios.
Nesse sentido, entendo que as críticas não são muito convincentes, pois em relatos de testemunhas oculares sempre se espera um misto de similaridade e dissimilaridades. Além disso, a historiografia antiga é repleta de relatos históricos apresentados com níveis ainda maiores de similaridade e dissimilaridade do que aquilo que encontramos nos evangelhos. Por isso, ao invés de concentrarmos nossa atenção apenas nas diferenças, precisamos também observar as similaridades desses relatos.
d. Tradição Comum
As semelhanças entre os relatos de Mateus e Lucas são marcantes e indicam uma tradição comum que reforça a autenticidade do nascimento virginal. Apesar de abordarem os eventos a partir de perspectivas diferentes, ambos os evangelistas concordam nos elementos centrais da narrativa: a concepção milagrosa de Jesus pelo Espírito Santo, sua linhagem davídica, o papel de José e Maria, e o fato de que Jesus nasceu para ser o Salvador do mundo. Como N.T. Wright observa:
“Se os evangelistas estão inventando uma história, o nível de concordância é surpreendente; mas se estão narrando eventos históricos, as diferenças são exatamente o que se esperaria de relatos independentes”
N.T. Wright, Suspending Skepticism: History and the Virgin Birth, 2011
e. Historicidade
Por fim, a combinação de similaridades e dissimilaridades nos relatos bíblicos fortalece a historicidade de sua mensagem. A dissimilaridade nos relatos dos Evangelhos sobre o nascimento de Jesus está relacionada à perspectiva de cada narrador, e não ao fato do nascimento virginal do nosso Senhor. Em outras palavras, apesar das diferenças nos relatos, todos concordam que Jesus, de fato, nasceu de uma virgem desposada. Assim, se os evangelistas trabalharam com fontes distintas, escreveram de perspectivas distintas e, ao mesmo tempo, afirmaram de maneira unânime que Cristo nasceu de uma mulher virgem, podemos concluir que esses relatos não foram fruto de uma conspiração. Além disso, a múltipla atestação, baseada em diferentes fontes, confirma a historicidade do nascimento virginal de Cristo.
Conclusão
A doutrina do nascimento virginal de Cristo é um pilar essencial da fé cristã. Apesar das diferenças nos relatos dos evangelhos, as similaridades destacam uma base comum de tradição que confirma tanto a historicidade do evento quanto sua profundidade teológica. As variações entre Mateus e Lucas não comprometem a verdade do nascimento virginal; pelo contrário, oferecem perspectivas complementares que enriquecem nossa compreensão do milagre do Natal.
Apesar de críticas e questionamentos levantados ao longo dos séculos, a doutrina permanece firme como uma verdade central do cristianismo. Neste mundo cético, as críticas à nossa fé são inevitáveis. Questionamentos sobre a plausibilidade de milagres, como o nascimento virginal, fazem parte do cenário em que vivemos. Contudo, como cristãos, somos chamados a “lutar pela fé que uma vez por todas foi confiada aos santos” (Judas 1:3). Defender essa doutrina não é apenas uma questão de apologética, mas também de fidelidade ao evangelho. Exige estudo das Escrituras, reflexão crítica e disposição para proclamar corajosamente o evangelho, mesmo em face da oposição.
Por isso, neste Natal, enquanto celebramos o nascimento de Cristo, sejamos ousados em proclamar essa verdade. Como está escrito em 1 Pedro 3:15: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.” Que este seja um tempo de estudo das Escrituras, fortalecimento da fé e testemunho destemido. As críticas à nossa fé são inevitáveis, mas Deus nos chama a defender e anunciar a verdade com confiança. Que você proclame com alegria e coragem o nascimento virginal de Cristo, o Salvador que veio ao mundo de maneira sobrenatural para trazer redenção e esperança à humanidade.